Uma nova chance para 'A Substância'
- Revista Bendita
- 24 de jun.
- 2 min de leitura
Crônica escrita pela editora da Revista Bendita, Patrícia Leão Ferrás
Atrizes Demi Moore e Margaret Qualley em momentos do filme (Fotos: Divulgação)
Assisti ao filme “A Substância” (da francesa Coralie Fargeat, 2024) com curiosidade. Além das referências já ditas que tratam o etarismo – preconceito pela idade - e o machismo, principalmente das mulheres expostas na mídia já que traz a história de uma estrela de Hollywood na casa dos 50 anos, que é demitida justamente pela idade, mesmo conservando a fama e uma beleza madura fora do comum na encarnação da bela Demi Moore.
Mas o ponto que destaco e que não tenho lido em críticas, spoilers e resumos, é o momento em que Elisabeth decide aproveitar sua semana com o corpo original – a substância gera a versão jovem da personagem. Com os atributos da juventude e seu talento original, enquanto uma dorme por sete dias, a outra vive, e vice-versa. Isso porque na pele de Sue (sua versão jovem), Elisabeth está satisfeita com o sucesso, a bajulação, a beleza e o interesse masculino por ela. Já em sua versão original, nada a estimula, e ela passa os dias sozinha no apartamento. até que ela lembra do encontro com um antigo colega de escola, que a elogiou dizendo que continuava “a mulher mais bonita do mundo”. Com o telefone dele anotado em um pedaço de papel sujo, Elisabeth decide marcar um encontro com o ex-colega.
Aí é que temos uma pontinha de esperança para que Elisabeth aproveite os dias como ela mesma, com suas marcas, sua pele madura, sua originalidade, sua história. E com alguém que a conhece antes da fama e a admira – quem sabe tantas outras oportunidades ela poderia encontrar, não só no relacionamento amoroso?
Talvez pudesse mesmo encontrar um novo amor ou apenas flertar; se renovar com uma nova carreira ou aproveitar sua fama na TV e criar seu espaço próprio nas redes sociais; fazer novas amizades fora do seu nicho ou fortalecer as que já têm; sair para lugares que gostaria de conhecer ou viajar, aproveitando o tempo livre; ler, fazer cursos; renovar a casa (trocar alguma decoração, colocar fora objetos); cuidar da saúde física e mental, fazer exercícios ao ar livre ou na academia... Mexer no visual? Talvez. Seria bom primeiro fortalecer a auto-estima com uma terapia e construir seu amor-próprio bem solidificado para poder decidir o que é saudável e bacana para mudar algo em si.
Mas como o foco dela é em uma beleza jovem, que não volta mais, e um auto-amor destruído, Elisabeth não enxerga o quão necessário seria se aceitar, se amar, se cuidar. E voltando para a vida real, não seria revolucionário acreditar em si com direito a tudo o que merecemos? Mas deixa eu te contar um segredinho: tudo está na sua mente.
Assim como a madura Elisabeth não enxerga todas as suas oportunidades, há jovens que desperdiçam sua juventude também querendo atingir uma beleza fora da realidade. As mulheres são muito exigidas, tanto por homens, quanto por outras mulheres. E aqui, vamos com calma, porque em pleno 2025, há de se ter vergonha de julgar mulheres por sua aparência ou atitudes em relação a si e às próprias decisões.
Crônica pela jornalista e editora da Bendita, Patrícia Leão Ferrás
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