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Foto do escritorRevista Bendita

Mulheres devem ter maior protagonismo em Tecnologia

Artigo por Marcela Ejnisman, Patrícia Helena Marta Martins, Carla do Couto Battilana, Bruna Borghi Tomé, Luiza Sato e Sofia Kilmar*

Imagine um mundo em que uma missão da NASA para envio de astronauta mulher para o espaço teve que ser revista às pressas, pela ausência de trajes projetados para o corpo feminino. Ou um mundo em que mulheres têm maior chance de se machucar em um acidente de carro porque o assento do motorista e dispositivos de segurança foram dimensionados considerando o corpo masculino. E que tal um mundo em que assistentes virtuais respondam muito melhor às vozes masculinas?

Pois esse é o nosso mundo hoje. Dentro do desenvolvimento de Inteligência Artificial (IA), não faltam casos de replicação da desigualdade de gênero por máquinas. Há casos em que chatbots foram treinados para selecionar pessoas contratadas ou promovidas em uma organização, e homens acabaram por ser super-representados entre suas escolhas – não porque os robôs fossem inerentemente sexistas, mas sim porque eles haviam sido solicitados a perpetuar e otimizar os sistemas de recompensa existentes naquela determinada cultura organizacional, essa sim, machista.

Esse assunto vem gerando discussões quentíssimas nas conversas sobre o ChatGPT, tecnologia que conquistou o mundo e já está no topo dos temas de 2023. Como qualquer tecnologia baseada em IA, ele é limitado pela qualidade e precisão das informações que digere, podendo facilmente disseminar preconceitos.

Com relação à área de Proteção de Dados, há grandes preocupações envolvendo a proteção de direitos de grupos minorizados no tratamento massivo de seus dados pessoais, incluindo mulheres. Por exemplo, a depender da forma de tratamento dos dados pessoais, podemos constatar práticas discriminatórias (como uma decisão baseada em dados de não conceder empréstimo a uma pessoa por ela ser mulher) ou que gerem a violência digital (golpes e perseguições contra mulheres).

Na concepção e design de produtos, é essencial que os times contem com forte presença feminina, sob pena do desenvolvimento de protótipos que não funcionem para mulheres, como aqueles descritos no início deste texto.

Ocorre que, segundo a Pesquisa de Remuneração Total, realizada pela consultoria Mercer, a área da tecnologia é a mais desigual quando o assunto é o salário de homens e mulheres. Dentre as 30 mil empresas do mundo analisadas (incluindo 759 no Brasil), a disparidade salarial no nível de executivos de empresas de alta tecnologia atinge 36%.

Sendo certo que a tecnologia é usada por mulheres, que representam metade da população, é evidente que, para criar tecnologia mais eficaz e amigável, a diversidade de pensamentos, perspectivas e habilidades deve ser promovida. Diversos recursos poderão permanecer inexplorados para a sociedade em geral sem a representação feminina em uma mesa de discussões. É benéfico e lucrativo para qualquer área de Tecnologia ter mulheres em posições de criação, ponderação e decisão.

Pensar que não há mulheres qualificadas para ocupar cargos relevantes na área seria uma falácia. Desde sempre existiram mulheres extremamente competentes e capazes de executar as mesmas tarefas que os homens na área de Tecnologia. Poucos sabem, mas Ada Lovelace foi a pessoa responsável por grande parte do desenvolvimento da computação moderna. Ela foi a criadora do primeiro algoritmo utilizado pela Máquina Analítica, o mais próximo do que seria um computador no começo do século XIX. Por sua vez, Grace Hopper foi a oficial da marinha americana que criou uma das primeiras linguagens de programação de computador, a COBOL, sendo mundialmente reconhecida por ser a primeira pessoa a programar um computador digital de larga escala.

Oportunidades mais equitativas

Os dados de diversos estudos demonstram a urgente necessidade de adotar medidas para que oportunidades mais equitativas estejam na mesa para as mulheres na Tecnologia, não apenas relacionadas à remuneração, mas também a locais de trabalho mais inclusivos. Deve ser garantido que mulheres sejam pagas e promovidas considerando suas particularidades e sem priorização por homens; que a contratação de empregados(as) e prestadores(as) de serviços seja feita de forma a atrair e reter talentos femininos; que sejam cumpridas políticas para que mulheres se sintam confortáveis em gozar da licença-maternidade; e que seja criado um ambiente confortável e seguro para mulheres, por meio de diálogo, eventos inclusivos, educação de gestores, canais de denúncia, dentre outras iniciativas.

Além disso, antes mesmo do início da vida profissional, meninas não devem ser desestimuladas a estudar e construir uma carreira na área da Tecnologia. É relevantíssimo que tenhamos mulheres participando ativamente de discussões em todos os ramos existentes nesse setor.

Essa parece ter sido uma pauta das Big Techs, que estão protagonizando mudanças nesse rumo: a Meta anunciou que dobrou, desde 2019, o número de mulheres em sua força de trabalho global, o Google teve seu melhor ano de contratação de mulheres em 2022 e a Apple, recentemente, divulgou um aumento de 89% do número de funcionárias mulheres na empresa.

Como profissionais e tomadoras e tomadores de decisões, chamemos mais mulheres para as mesas de discussão e contratemos mais mulheres para prestar serviços de tecnologia! Como mulheres, ocupemos cada vez mais os nossos espaços!

(*) Sócias responsáveis pela área de Tecnologia, Cybersecurity & Data Privacy do TozziniFreire Advogados



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